quarta-feira, 11 de março de 2009

ORNAMENTO E CRIME

Crítica de Maribel Mendes Sobreira

Ornamento e Crime

O título de uma peça feita para um contexto específico, a Alta de Lisboa, dá mote para a retrospectiva, não linear, que Magali Marinho faz no Projecto “a sala”. Ornamento e Crime surge aqui, não como apologia às teorias do Adolf Loos e dos Modernistas, mas como uma provocação à ideia de que o ornamento mata a forma e que, por isso, a linguagem minimalista deverá prevalecer. Questiona se ambas não poderão coexistir, criando uma linguagem híbrida, onde a sobriedade é equilibrada pelo ornamento dando dinâmica à leitura do suporte.
Mas não só de ornamento fala o trabalho de Magali Marinho. Existe para além dessa questão a preocupação de uma reflexão sobre a paisagem em contexto urbano, sendo ela uma artificialidade, a artista realça essa ideia com a escolha do verde-água como fundo de todo o espaço expositivo. A percepção que temos ao entrar no espaço é de uma amálgama de informação, típica da casa lisboeta, cheia de plantas e flores, naturais ou artificiais. De um lado temos papéis dobrados – remetendo-nos para o imaginário das artes decorativas – com padrões de rosas e do lado oposto as várias possibilidades de paisagens onde não falta a gaiola aberta, para que o pássaro seja livre de permanecer onde achar por bem. Na parede que divide as anteriores a racionalidade das formas geométricas transporta-nos para o imaginário da urbe.
Mais do que falar sobre o seu trabalho, o interessante é confrontarmos-nos com ele no espaço físico da exposição, perceber até onde nos remete nas nossas reminiscências sensitivas e reflexivas.

Maribel Mendes Sobreira

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